Descarbonização e inclusão: como planejar o futuro da mobilidade urbana no Brasil

 

Primeira mulher na presidência do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba, Ana Jayme fala sobre desafios e oportunidades na busca por uma cidade de 20 minutos, com igualdade de acessos aos transportes e neutra em emissões de carbono

Ana Jayme, presidente do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba. Foto: Divulgação/IPPUC

Durante a Iniciativa Transformadora de Mobilidade Urbana, mais conhecida como TUMI, no seu acrônimo em inglês, vêm à tona histórias de pessoas impactadas positivamente com a transição energética dos transportes públicos, que também busca por equidade e melhoria dos serviços. Por trás dessas histórias, estão pessoas que trabalham na gestão pública, dedicadas a melhorar a qualidade de vida da população. 


Um exemplo é Ana Jayme, presidente do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba, o IPPUC. Com quase 30 anos de experiência trabalhando para a Prefeitura de Curitiba, Ana Jayme realizou contribuições significativas em diversas áreas, como planejamento urbano e legislação, desenvolvimento e gestão de projetos estratégicos integrados multissetoriais, captação de recursos junto a organizações internacionais e nacionais, tomada de decisões estratégicas, identificação de oportunidades de parcerias público-privadas, planejamento de longo prazo e avanço da agenda climática. 


Ela participa também ativamente da Rede Mulheres em Movimento, que reúne líderes dos setores público e privado, dos campos da mobilidade, energia e meio ambiente, para amplificar o impacto das mulheres nas agendas de transporte, energia e sustentabilidade.


Leia a seguir a entrevista com Ana Jayme ou assista em video neste link.


O que despertou o seu interesse pela intersecção entre arquitetura, urbanismo e mobilidade urbana sustentável. Houve algum marco ou projeto que consolidou essa escolha de caminho na sua carreira?

Teve um marco muito importante, antes de eu começar a me dedicar à mobilidade urbana. Em 2014, recebi um convite para fazer parte de uma academia, numa parceria com o C40 e com o Banco Mundial, atrelada ao financiamento climático. E, até então, eu confesso que eu não tinha essa vivência. Como fui indicada para participar, eu fui estudar o que que era um financiamento climático, tentar entender o que Curitiba tinha sobre isso, e fui apresentada aos inventários os gases de efeito estufa, algumas ações estratégicas elencadas para a cidade. Olhando esses dados, me chamou muito a atenção que o principal setor em emissão de gases de efeito estufa em Curitiba era o setor de transporte. Quase 67% das emissões da cidade vinham do setor de transporte.


É curioso, porque Curitiba é muito conhecida, seja nacionalmente ou internacionalmente, pelo seu sistema de transporte público coletivo. Então, tem uma história de sucesso, mas olhando nessa perspectiva de clima, o setor de transporte não está alinhado com esse nosso reconhecimento. E, a partir dali, eu percebi que se a gente quer de fato ter uma cidade neutra em carbono, é essencial trabalhar com a mobilidade.


E aí eu comecei a prospectar, a estudar um pouco mais, entendendo como que isso deveria acontecer, e ficou claro que investir na descarbonização da mobilidade em Curitiba era determinante para a gente alcançar essa meta de neutralidade. Então, aí fui um pouco apresentada ao tema e, lógico, acabei mergulhando de cabeça, me apaixonando pela área. Clima e mobilidade em Curitiba são indissociáveis. Elas precisam estar caminhando juntas para a cidade ser exitosa no desafio que a gente tem pela frente.



Você estava nos últimos cinco anos como assessora de investimentos no IPPUC e, em janeiro, foi promovida à presidência. É a primeira vez que você se torna presidente de uma organização e como você está enxergando esse desafio?

Essa posição é a primeira vez. Já tive a oportunidade de, anteriormente, trabalhar como secretária executiva. Preciso confessar que dá um friozinho na barriga, porque o IPPUC é uma instituição que este ano vai completar 60 anos de história. Já foi presidida por três ex-prefeitos, Jaime Lerner, que foi uma pessoa que já teve a frente aqui do Instituto, outros nomes emblemáticos, e eu estou sendo a primeira mulher a chegar a essa posição em 60 anos.


Então, é óbvio que, estou feliz pelo reconhecimento, eu entendo que é pela trajetória que eu construí ao longo desses quase 30 anos um reconhecimento. As pessoas entenderam que eu teria todas as competências necessárias para assumir o IPUC nesse momento e, principalmente, para pensar o IPPUC para os próximos 60 anos. Esse é um desafio. A gente vive um momento de mundo que a gente já tinha desafios conhecidos, mas novos desafios, como a cidade é algo muito dinâmico, estão sendo apresentados e colocados para a gente, e a gente vem percebendo a necessidade, como planejadores urbanos, de como lidar com isso, como é que a gente resolve, e está ficando claro que novas competências são necessárias. Então, acho que eu chego super feliz, cheia de gás.


Gosto de desafios, gosto de ser desafiada, ainda mais com um desafio tão bom como esse. Já está muito associado com projetos que eu já vinha, nesses últimos cinco anos, organizando, que tem muito a ver com a agenda clima do município. Então, estou muito animada, com um pouquinho de medo, que acho que é natural, mas cheia de energia para poder ajudar a instituição a encontrar esse novo caminho, entregar bons projetos para a cidade nos próximos 60 anos.


O medo é uma emoção que às vezes pode nos atrapalhar, nos congelar. Mas, como você disse, é muito natural. O medo é importante para a evolução humana, seja para nos proteger ou nos motivar. Você é uma pessoa muito preparada para esse desafio, seu currículo tem diversas formações além da graduação em Arquitetura e Urbanismo, você se especializou em sustentabilidade, Governança, Gestão Pública, Liderança na Transição Energética dos Transportes. Como você enxerga o papel de uma liderança transformadora no setor público? 

Hoje, a liderança transformadora tem um item que eu entendo como fundamental, que é a habilidade de fazer uma concertação entre várias pessoas e a sociedade. Um outro aspecto que considero fundamental, e que eu me coloco nesse desafio, agora, à frente do IPPUC: como posso atuar para despertar e fazer florescer o talento das pessoas? Falamos antes do medo, e eu não acho que, de fato, seja uma coisa ruim, porque é essencial um desconforto e ser, naturalmente, inconformado com a situação.


Essa liderança transformadora que se coloca é como despertar o melhor das pessoas, como fazer essa concertação entre esses diversos atores, porque os problemas apresentados para a cidade são problemas complexos. Então, conseguir criar essa conexão entre diversos talentos, sejam de dentro do IPPUC, com a sociedade, nessa articulação, tentando despertar o melhor de cada um. E para essa concertação ser muito efetiva, temos que trabalhar com uma gestão por propósito. A liderança transformadora tem que ter essa habilidade de construir uma narrativa muito poderosa, em prol de um grande propósito que precisa ser compartilhado e servir de base para criar essas conexões, para fomentar um bom ambiente e propício para que as soluções aos desafios e aos problemas complexos que são apresentados encontrem bons caminhos para serem resolvidos.


Fazer uma concertação, essa importância de construir consensos, um tema que a TUMI está trabalhando, e entendo que seja um dos legados que você quer deixar. Quais outros legados você espera deixar, então, ao final da sua gestão na presidência do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba?

Olhando mais para o ponto de vista institucional, a gente está com uma geração jovem, um time cheio de energia e brilhante, ou seja, como é que eu preparo essa geração jovem para enfrentar os desafios no futuro? Planejadores que sejam naturalmente inconformados, que tenham uma capacidade de ter ação para rodar as soluções é fundamental, que aprendam a fazer essa concertação e que também aprendam a fazer narrativas poderosas para mobilizar as pessoas.


Como agenda, nós temos metas de longo prazo: Curitiba ser uma cidade neutra (em emissões de carbono) até 2050 e mais resiliente. A gente tem uma trajetória, projetos já em andamento. Para mim, o meu legado é se a gente conseguir organizar um pipeline (de projetos) onde a gente consiga vislumbrar que nos próximos quatro anos a gente avançou nessa agenda e a gente vai estar mais próximo dessa meta colocada a 2050, com Ippuc, com a cidade preparada para fazer essa conexão com esses projetos e colocar isso cada vez mais na rua.

 

Nós estamos com algumas ações importantes em andamento na cidade. Temos esse ano a nova concessão do transporte público coletivo e é uma grande janela de oportunidade para avançar na descarbonização da mobilidade. Esse processo bem estruturado, com um contrato diferente, repensando modelos de negócio para promover essa transição para mobilidade sustentável, talvez seja um dos grandes legados que a gente pode deixar, que vai inspirar até outras cidades no Brasil, eu considero um item muito importante. 


E o outro é que nós temos a revisão do plano diretor, que também acaba sendo a razão de ser do próprio Ippuc e um instrumento fundamental para que a cidade caminhe em uma boa direção, em torno de ser neutra em carbono, de ter práticas cada vez mais sustentáveis na cidade. E esse processo nós vamos iniciar esse ano. Está fechando dez anos do plano diretor, então vamos deixar um plano diretor atualizado, conectado com todos esses desafios do futuro e com boas diretrizes, e já projetos ancorados, eu entendo que vai ser um legado também dos maiores que eu posso deixar agora durante a minha gestão.


Liderança Transformadora

Para Ana Jayme, presidente do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (IPPUC), a liderança transformadora possui os seguintes atributos:


Concertação

Fomenta diálogos, conecta atores do ecossistema e cria ambientes de cooperação entre diferentes partes interessadas. Busca harmonizar os interesses divergentes, com o objetivo de alcançar um consenso ou acordo sobre políticas que promovam o crescimento econômico sustentável e a justiça social.


Gestão por propósito compartilhado

Busca motivar colaboradores e parceiros através de narrativas que possam engajá-los em torno da realização de um objetivo comum que traga benefícios socioambientais e de bem-estar individual e coletivo. Formula essas iniciativas por meio de planejamento de longo prazo e indicadores bem amparados. 


Quais tendências ou inovações tecnológicas você acredita que serão essenciais para superar os desafios de mobilidade urbana na cidade nos próximos anos?

Talvez o maior desafio seja criar a conexão dentre as diversas formas de se deslocar na cidade, reduzindo muito a participação do veículo individual. Ou seja, como é que a gente fomenta que os deslocamentos sejam mais sustentáveis na cidade? Eu acredito que o desafio é criar essa conexão, e colocar a mobilidade na palma da mão das pessoas de uma forma pedagógica para induzir os melhores comportamentos e para as pessoas entenderem a importância de usar mais o transporte público coletivo, as modalidades ativas, que seja caminhar, usar a bicicleta e mesmo a mobilidade compartilhada integrada.


Esses deslocamentos sustentáveis são a grande meta na cidade e a tecnologia pode ajudar muito. O conceito da mobilidade como serviço já foi colocado, há alguns exemplos pelo mundo, mas aqui no Brasil ainda não conseguimos colocar em prática. Eu vejo isso como uma inovação possível para conectar com todas as outras estratégias que a gente já tem na nossa caixa de ferramentas. 


A gente vem investindo na qualidade da infraestrutura do transporte, em infraestrutura cicloviária, na melhoria das calçadas, tentando criar ambientes vibrantes para as pessoas se conectarem, melhorando o nosso processo de planejamento urbano, de ter atividades em todos os locais, colocando em prática a cidade dos 15 ou dos 20 minutos, que sejam, mas falta algo que conecte isso de uma forma simplificada para as pessoas. Porque se você for olhar, se a gente pega os nossos celulares hoje em dia, você tem um aplicativo do transporte coletivo, um aplicativo do Uber, um aplicativo do serviço de bicicletas compartilhadas e você tem outro para estacionamento. Por que isso tem que estar tudo fragmentado? Por que a gente não pode reunir isso tudo num único local? Isso vai gerar atratividade para as pessoas e facilidade para ajudá-los a escolher a forma mais sustentável de se deslocar na cidade, ao ter muita informação reunida. 


Eu vejo como um dos grandes desafios que a gente tem para azeitar isso e, de novo, sempre colocar nessa trajetória de transição para a mobilidade mais sustentável. Além do próprio processo também de descarbonização de frota, a gente vem discutindo muito isso no Brasil. Hoje a gente tem uma tecnologia mais madura, que são os ônibus elétricos. Agora, como a gente faz com que isso vá além de um projeto piloto e escale como solução na cidade? Então, essa transição que vai demandar novos modelos de negócio, novos atores para fazer parte dessa equação, vem com uma grande inovação. Essa transição da matriz energética no transporte é um baita desafio também colocado.


A importância da diversificação de modais é algo que a TUMI, a Iniciativa Transformadora de Mobilidade Urbana, também trabalha. Falando na Missão Onibus Elétrico, há exemplos concretos de como a TUMI impactou diretamente os projetos no Brasil, que você também participa, e como essas parcerias internacionais influenciam o desenvolvimento de soluções locais?


Essa parceria foi fundamental. Muito do momento que a cidade vive hoje se deve muito a todas essas parcerias que vêm sendo construídas desde 2014 até agora. A TUMI exerceu um papel fundamental, todo o nosso alinhamento estratégico, interações que foram feitas com a sociedade, com o ecossistema de mobilidade, foram fundamentais para a gente conseguir construir o nosso programa de mobilidade sustentável, com esse vetor muito forte de descarbonização.


E para hoje, quando a cidade chega, estruturando uma nova concessão com o BNDES, buscando financiamentos com o Banco de Desenvolvimento Alemão, e com o próprio BNDES, em prol dessa mobilidade sustentável, isso foi possível porque nesta trajetória a gente foi desenvolvendo estudos que nos permitiram construir uma visão clara de um planejamento de longo prazo, uma narrativa muito consistente que permitiu essa sinergia do ecossistema, falando da eletromobilidade, do ônibus elétrico, que a gente conectou operadores, conectou a indústria, financiadores, a gente conectou o município com as suas várias instituições que trabalham com isso, e a TUMI teve esse papel decisivo porque nos ajudou muito nessa concertação. Então, construindo elementos sólidos, fomentando os ambientes para a concertação.


Hoje Curitiba está no estágio que está com o reconhecimento das instituições, todo mundo quer apoiar os projetos, viram que esse planejamento de longo prazo está muito ancorado com as ações que nós estamos pensando agora, e com indicadores bem colocados. Isso foi possível por essa multiplicidade de parcerias que a gente construiu, onde a TUMI é uma delas, e com grande destaque, eu diria. Porque esse apoio do governo alemão, que trouxe a GIZ, mobilizou o C40, a WRI, são hoje um ativo da cidade, tão importante e com muita responsabilidade por esse momento que a cidade vive. Os nossos conhecimentos nos permitiram acessos a estudos que se a gente fosse fazer sozinhos a gente não teria. Isso tudo foi fortalecendo o nosso processo de planejamento e uma narrativa muito poderosa de conexão. Isso não tem preço. Sem dúvida, foi um diferencial.



Cidade de 20 minutos

Modelo urbano que visa criar comunidades onde os cidadãos possam satisfazer todas as suas necessidades diárias sem depender de longos deslocamentos, propondo:


Proximidade

Trabalho, escola, lazer, compras e serviços de saúde devem estar acessíveis a uma caminhada ou passeio de bicicleta em até 20 minutos.


Sustentabilidade

Incentiva práticas ambientais sustentáveis ao reduzir a utilização de veículos motorizados.


Infraestrutura Ativa

Promove investimentos em transporte público eficiente e infraestruturas, como ciclovias e calçadas, que facilitem movimentos ativos.


Qualidade de Vida

Melhora a interação social e cria comunidades mais coesas, além de fomentar ambientes urbanos mais vibrantes e saudáveis.


No início da entrevista, você mencionou que em 60 anos de IPPUC você é a primeira presidente mulher. Esse é um setor em que as mulheres são minoria hoje. Quais conselhos você daria para mulheres que querem ingressar ou, então, já estão nesse mercado e querem se destacar no setor de transporte e mobilidade urbana? E como, na sua opinião, podemos fomentar mais diversidade em posições de liderança?

O fomento passa por um ponto muito importante. Eu acho que a liderança feminina vem com alguns atributos diferentes de uma liderança masculina e que são muito complementares. Eu vou fazer uma ponte com o que a gente estava discutindo antes de mobilidade. Há vários serviços dispersos e o que a gente quer criar é uma conexão deles para se ter complementaridade nos serviços. Ou seja, ao invés de eles serem concorrentes entre si, como é que eles se apoiam? 


A liderança feminina é importante porque ela traz, como eu falei, alguns atributos que se complementam. A liderança feminina consegue ter uma visão mais sistêmica, de trabalhar com várias frentes. Ela tem muito mais empatia do que a liderança masculina. E essa empatia, essa capacidade de ouvir, eu acho que consegue colaborar de uma forma mais fácil porque ela tem uma facilidade de compartilhar a liderança e as informações mais simples. Quando a gente consegue entender que a união desses dois atributos da liderança masculina e feminina é muito mais poderosa para entregar resultados, isso é um fator decisivo. Conseguir reconhecer esse olhar feminino com esses atributos e como isso pode agregar muito mais às agendas que você tem. 


As pessoas que querem se engajar mais e encararem esses desafios, eu vou tomar pela minha experiência: quando a gente consegue demonstrar essa capacidade de engajamento por propósito, construindo boas narrativas, isso ajuda muito a você ser percebido. As pessoas que querem enveredar por esse caminho precisam demonstrar essa capacidade que elas têm de engajamento. Isso é muito percebido. Quando a pessoa que vai convidar alguém para assumir uma posição de liderança, hoje em dia, eu vejo que isso é muito procurado. Ou seja, a sua capacidade de se articular rapidamente, engajar as pessoas e construir narrativas poderosas é fundamental. Então, investir nisso, aprenda. 


Como você vai buscar os dados? Como é que você constrói uma história que mobiliza as pessoas, que gera engajamento? Eu acho que isso é algo que as mulheres conseguem fazer muito bem. E isso acaba sendo uma alavanca para você poder ocupar as pessoas, porque você falou antes, lideranças transformadoras. Eu acho que esse olhar feminino, esses atributos femininos, a gente é muito apaixonada pelas coisas que a gente faz, sabe? E eu acho que demonstrar essa paixão com esse conteúdo e com esse senso de propósito, demonstrando caminhos, isso é um abre-alas, um abre-portas para oportunidades, que eu entendo ser muito poderoso. 


Então, para as mulheres que querem, coloquem essa paixão na rua, se conectem com boas histórias e mostrem essa capacidade de mobilizar as pessoas, que eu entendo que isso vai ser um fator decisivo para você ascender a essas posições. Eu, pelo menos, olhando para a minha história, eu acho que isso foi uma coisa que foi sendo percebido. E, de novo, esse poder da articulação e da conexão é fundamental, as pessoas saberem que você está aberta ao diálogo, aproxima, conecta. E é isso que eu acho que motiva você a ascender essas posições de maior liderança.


Você já mencionou durante a entrevista vários aspectos ESG – ambientais, sociais e de governança – , mas há ainda algum ponto que gostaria de ressaltar sobre a conexão entre mobilidade urbana e questões maiores como justiça social e sustentabilidade ambiental?

Quando foi discutida a nova agenda urbana, tem um lema que eles colocam, que todo dia eu me lembro dele porque eu acho que a gente tem que ter um cuidado extremo, que é: não deixar ninguém para trás.

Isso, para mim, é de um poder tão incrível que todo dia eu faço questão de me lembrar disso. Quando você está pensando nessas soluções, em todo esse movimento que a cidade está criando, como é que eu crio algo que não seja excludente? Ou seja, ninguém pode ficar para trás. As soluções que são pensadas precisam convergir essa multiplicidade de interesses e de necessidades. Então, não adianta pensar na melhor solução tecnológica se ela for deixar alguém para trás. 


Para cada discussão que eu tenho, eu falo: será que a gente está deixando alguém para trás? Será que isso que a gente está pensando aqui, de fato, está trazendo todo mundo para dentro do barco, permitindo usufruir dessas questões? A gente não pode jamais perder essa perspectiva, principalmente quando você está, lógico, no setor público, mas mesmo no privado. Na hora que você está pensando nos seus negócios, como os ônibus elétricos, a indústria automotiva que está se reorganizando, criando novas cadeias de suprimento, como é que a gente consegue reduzir essa disparidade de gênero? Essa solução que está sendo criada vai estar aberta para todo mundo ou não? É uma perspectiva e um ponto que eu gosto de reforçar para mim mesma e gosto de lembrar a todo mundo.

Sobre a TUMI – Iniciativa Transformadora de Mobilidade Urbana 

Transformative Urban Mobility Initiative (TUMI, na sigla em inglês) é implementada pela GIZ e financiada pelo Ministério Federal de Cooperação Econômica e Desenvolvimento da Alemanha (BMZ). Formada por 11 parceiros, entre bancos de desenvolvimento, redes de cidades, think tanks, e organizações do terceiro setor, é a principal iniciativa global de implementação em mobilidade sustentável. A visão da TUMI é ter cidades prósperas, com desempenhos econômicos, sociais e ambientais alinhados com a Nova Agenda Urbana, a Agenda 2030 e o Acordo de Paris

Comentários