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“XTRANHO”: MATUÊ TRANSFORMA NOVO DISCO EM MOVIMENTO PELO TRAP UNDERGROUND

Aguardado novo álbum visual do rapper usa da estranheza e do desconforto como ferramenta de auto expressão e questionamento do sistema


Disco foi lançado de surpresa nesta quarta-feira (10), num evento em São Paulo que reuniu música e moda de forma gratuita para 10 mil fãs

OUÇA: https://Matue.lnk.to/Xtranho

“Eu represento o meu bando”, avisa Matuê na faixa de abertura de *XTRANHO*, disco visual lançado nesta quarta-feira (10), às 21h. O verso resume um dos objetivos do projeto: abraçar o underground da cena trap brasileira, aguçando o senso de liberdade que, segundo as reflexões das 13 canções, é necessário para a resistência criativa do gênero. 

Composto, gravado e produzido no decorrer de quatro meses, o novo álbum é resultado de experimentos instintivos do rapper cearense, atravessando elementos de música, moda, arte, design e comportamento. 

As faixas fogem das burocracias comerciais do mercado musical, sem o compromisso de soarem confortáveis ao grande público. E nasceram do incômodo do músico com os caminhos que o mainstream da cena vinha tomando. 

A faixa-título - que chega acompanhada de videoclipe, também às 21h deste dia 10 - reflete exatamente sobre essa ruptura estética: “Foda-se se você não entende / Meu estilo é inconveniente”, cantam os versos, que contam também com vocais de Brandão, parceiro frequente de Matuê e parte do time de artistas da 30PRAUM (selo musical fundado pelo cearense). O trap no qual eles acreditam não abre mão de sua autenticidade em nome do sucesso comercial. 

ESSA VAI BOMBAR NO CEMITÉRIO

Uma das vantagens da liberdade artística, pela qual Matuê luta, é a possibilidade de criar sem se explicar. “FACAS E MACHADOS” é exemplo disso, apresentando um sonho febril, agressivo e disforme em forma de música, quase que em fluxo de consciência. 

O clima sombrio se reflete também em toda a estética do projeto. Tanto sonora quanto visualmente, o álbum se desenrola num clima de desconforto estético. Aqui, uma das principais influências foi o músico e compositor Richard David James, conhecido mundialmente como Aphex Twin. 

O disco usa da experiência desconfortável para refletir os vícios da indústria musical, criticando a forma com que a figura física do artista muitas vezes se torna primária, em detrimento da arte. 

“MEU CEMITÉRIO”, lançada na última segunda-feira (07), exemplifica esse exercício, ao criar uma paisagem sonora feita de “sangue no crucifixo”, rituais e figuras diabólicas. Se a beleza é moeda de troca, Tuê quer expressar a feiura e o desconforto. 

Sem medo de julgamentos, o músico honra sua visão da arte. Em “TODAS AS LUZES” ele exalta as ideias disruptivas e corajosas que provocam debate e queimam estruturas. 

Matuê usa das novas canções também como expressão do lifestyle característico e único da cena. Faixas como “ÍCONE FASHION” e “ALTERADO” narram a adrenalina e a urgência artística que nascem desse meio. 

Por sua vez, “BACKSTAGE” é um relato cru, sexual e fetichista da vida na estrada. Enquanto isso, “TALKIN BOUT” é ainda mais honesta e sincera sobre essas vivências, resumindo em poucas palavras o jeito de ser do ritmo. Sexualidade, estilo e liberdade de ser são elementos inegociáveis aqui.

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